Pessoas que convivem diariamente com o serviço dão dicas para tornar a viagem muito mais segura para profissionais e passageiros
O transporte de passageiros por aplicativos é uma realidade em muitas cidades por todo o mundo e em Goiânia não é diferente. Além das tarifas mais atraentes do que as praticadas pelos táxis, os aplicativos oferecem outras possibilidades como o compartilhamento de rotas e visualização dos preços antes da corrida. No entanto, a utilização desse meio de transporte inspira alguns cuidados e condutas que podem ampliar a segurança de todos os usuários: motoristas e passageiros. Para ajudar nesta tarefa, o Jornal Opção realizou uma série de viagens para conversar sobre a realidade de quem carrega os goianienses em milhares de viagens todos os dias e também para entender que tipos de cuidados os passageiros consideram importantes.
Ao conversar com passageiros, percebemos que as mulheres se sentem mais vulneráveis e, por isso, tomam mais cuidados que os homens. As passageiras evitam até mesmo utilizar o transporte sozinhas, optando sempre que possível compartilhar pelo menos parte do trajeto com uma pessoa de confiança. O cuidado é redobrado durante o período noturno. Se não houver outra alternativa, a dica é compartilhar o trajeto via aplicativo com uma pessoa de confiança, informar que está utilizando o serviço naquele momento e não repassar informações pessoais ao motorista.
Algumas mulheres relataram ainda que preferem se sentar no banco atrás do motorista, evitando ficar no campo de visão de quem conduz o veículo. Ao conversar com motoristas, eles relatam que se quem escolhe este local para realizar a viagem é um homem, a conduta é vista como ameaçadora, já que o passageiro sai do campo de visão do condutor. Uma dica dada por alguns usuários e corroborada por inúmeros condutores é a de não esperar o veículo na rua, principalmente com o celular na mão. “A pessoa muitas vezes está distraída e pode ser vítima de ladrões, ou até embarcar em uma emboscada com um falso motorista”, explica o motorista Carlos Machado, de 24 anos. Isso leva a outro alerta importante, sempre verificar a placa do veículo solicitado.
Mulheres ficam mais expostas
“Eu evito ao máximo aparentar estar embriagada embora use o aplicativo para sair de festas e bares. Também tento sempre dividir a viagem com uma amiga assim nós duas ficamos mais seguras. Também costumo pedir para alguém me acompanhar até o carro e digo que avisarei assim que chegar em casa. Outra tática é nunca sentar ao lado do motorista e evitar conversar muito, dando espaço para perguntas de cunho pessoal. Quando me perguntam onde eu estava digo que em uma confraternização e desconverso”, explica Letícia, que costuma usar transportes por aplicativos no mínimo três vezes por semana.
Fizemos uma corrida com a aposentada Regina, em seu primeiro dia como motorista por aplicativos. Ela nos conta que resolveu entrar nesse universo para complementar a renda familiar, mas por questões de segurança só irá trabalhar durante o dia. Durante a corrida, ela acaba batendo de leve em outro veículo. Prejuízo e falta de atenção andam juntos no trânsito, ela avisa. Por sorte estávamos devagar e usando o cinto de segurança. Esse é outro cuidado a ser observado durante a corrida. Letícia, que usa aplicativos de transporte costumeiramente, explica que usa o cinto sempre e que, quando o motorista está andando em uma velocidade que não a inspira segurança, faz o alerta: “Peço para dirigir um pouco mais devagar, segurança em primeiro lugar”, diz.
Engana-se quem pensa que os motoristas se sentem seguros realizando as viagens. Eles também tomam uma série de cuidados, trocam informações entre si, debatem questões de segurança com outros condutores e mantêm grupos de whats app. A preocupação é maior para os que trabalham durante o período noturno. Alguns motoristas informaram que além de olhar a pontuação do passageiro, também evitam alguns pontos de embarque em locais perigosos e até mesmo recusam usuários embriagados e alterados.
Motorista deve manter todos os cuidados
O motorista Herbert, que também é agente penitenciário, nos contou que trabalha sempre visando sempre sua segurança material e física. “Fico um pouco mais seguro quando o usuário tem boa pontuação, mas isso não é suficiente, evito pegar por exemplo três homens. Também tenho muito cuidado ao pegar usuários em shopping centers, que são lugares aparentemente tranquilos, mas que inspiram cuidados. Em shoppings geralmente os motoristas deixam de tomar cuidados em relação ao passageiro e por isso, vários colegas acabaram sendo vítimas de assaltos. Em locais ermos eu dou uma volta no quarteirão, jogo luz alta e tento visualizar os passageiros. Se eu não me sentir seguro opto por não realizar a corrida”, explicou o motorista.
No entanto, o condutor diz que não evita alguns bairros pois acredita que todas as pessoas merecem ter acesso ao serviço. “Com cuidado, verificando quem irá embarcar conseguimos transitar em segurança por todos os lugares”, relatou. Herbert também evita homens e mulheres embriagadas. “Podem arrumar confusão, vomitar no carro fazendo com que eu perca muito tempo de trabalho e também para evitar assédios. É uma situação chata e que eu prefiro evitar. Também não gosto de rodar perto da Pecuária, pois ali algumas pessoas mal conseguem entrar no carro e, muitas vezes, chegam ao destino desacordadas”.
O motorista diz que sempre busca inspirar confiança em seus clientes. “Gosto de tratar os meus passageiros como gostaria que eu, minha mãe e minha irmã fossem tratadas. Tenho zelo, mas também dou bronca quando vejo alguém agindo sem cuidado. Quando a pessoa dorme durante a viagem eu sempre chamo a atenção ao final da corrida. Pois uma pessoa que não observa para onde está indo, é perigosa. Por mais que existam uma triagem de motoristas não se sabe o que as pessoas podem fazer e todo cuidado é pouco”.
O estudante Anderson, de 27 anos, faz uma viagem compartilhada e nos conta que tipos de cuidado toma. “Se a pessoa pega um ônibus ela tem os devidos cuidados, isso deve ser estendido a todos os meios de transporte”. O condutor Herbert, que já realizou mais de 2 mil viagens, concorda que todos devem ter cuidado. Ele alega que medidas simples garantiram com que ele nunca fosse assaltado e nos dá mais algumas dicas. “Achou o caminho estranho, liga para alguém e avisa que está a caminho, conversa, compartilhar sempre o caminho com alguém. Até porque nós também fazemos isso, se os meus colegas ficam cinco minutos sem minha localização já me ligam, e se vamos arriscar em uma viagem avisamos um colega. Somos parceiros”, explica o motorista.
No início do ano, motorista foi assassinada
No início deste ano, um crime chocou a sociedade e chamou a atenção para a questão da segurança de motoristas e usuários. A motorista de aplicativo Vanusa da Cunha Ferreira, de 36 anos, foi assassinada após realizar uma corrida em Goiânia. Ela foi encontrada morta no Jardim Copacabana, em Aparecida de Goiânia. Horas antes, o carro dela foi achado em uma rua vicinal da cidade e passou por perícia.
Vanusa tomava precauções e chegou a enviar uma foto do suspeito do crime a um grupo nas redes socais. A foto ajudou a polícia a chegar até o empresário Parsilon Lopes dos Santos, que confessou o crime. Ele vai responder por homicídio qualificado, tentativa de estupro e vilipêndio de cadáver. Após a divulgação do caso, motoristas realizaram uma manifestação e cobraram ações do poder público na área da Segurança Pública.
Empresa diz que investe em segurança
Entramos em contato com uma das maiores empresas do setor, a Uber, para entender o que é feito para garantir as seguranças nas viagens pelo aplicativo. Em nota, a empresa afirma que está sempre buscando aprimorar sua tecnologia para fazer da plataforma a mais segura possível de uma forma escalável. Segundo a empresa, a tecnologia da Uber já possui ferramentas de segurança importantes antes, durante, e depois de cada viagem realizada por meio do aplicativo.
Antes
Todos os motoristas parceiros cadastrados passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos para cadastramento na plataforma, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o País em busca de apontamentos de crimes que possam ter sido cometidos. A Uber também realiza rechecagens periódicas dos motoristas já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses.
Recentemente, a Uber fechou um contrato com o Serpro, empresa de TI do Governo Federal, para confirmar as informações cadastrais dos motoristas parceiros e candidatos a motoristas e de seus veículos, em tempo real, a partir das informações da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV), com a autorização do Denatran – Departamento Nacional de Trânsito. As fotos dos motoristas também serão verificadas digitalmente, com um software especialmente desenvolvido para isso, denominado Datavalid, que compara as imagens fornecidas pelo condutor com as arquivadas pela autoridade de trânsito, a fim de prevenir fraudes.
Também temos uma ferramenta que faz a verificação de identidade do motorista em tempo real. De tempos em tempos, o aplicativo pede, aleatoriamente, para que os motoristas parceiros tirem uma selfie, antes de aceitar uma viagem ou de ficar on-line, para ajudar a garantir que a pessoa que está usando o aplicativo corresponde àquela da conta que temos no cadastro.
Todas as viagens da Uber só podem ser realizadas por meio do aplicativo, onde o usuário solicita um carro ao toque de um botão e recebe, via app, informações sobre o motorista parceiro que vai buscá-lo, como nome, foto, além de modelo, placa e cor do veículo. Ao chamar um Uber, o aplicativo permite ao usuário aguardar seu carro em um local seguro e monitorar o tempo de chegada do carro pelo mapa, evitando que ele fique exposto na calçada esperando seu veículo com o celular na mão. Quando o carro chegar, o usuário deve verificar se as informações do veículo e do motorista conferem com as que aparecem no aplicativo, para se certificar de que está entrando no carro certo.
O aplicativo exige do usuário que quiser pagar somente em dinheiro que insira o CPF e data de nascimento, dados que são checados com a base de dados da Receita Federal. A informação sobre essa opção de pagamento também é exibida na tela do aplicativo de quem está atrás do volante antes que o usuário entre no carro. Para aumentar a segurança, o aplicativo permite ainda que solicitações de viagens sejam canceladas por motoristas parceiros sempre que não se sentirem seguros.
Além disso, desde o ano passado a Uber vem utilizando no Brasil o recurso de machine learning. Esta ferramenta usa algoritmos que aprendem de forma automatizada a partir dos dados e bloqueia as viagens consideradas potencialmente mais arriscadas, a menos que o usuário forneça detalhes adicionais de identificação.
Durante
Na Uber, todas as viagens são registradas por GPS. Passageiros e motoristas sabem que há registro das viagens. No app, o passageiro pode ver sua rota, a localização do carro e se o motorista está seguindo para o destino certo, durante todo o trajeto.
Recentemente também foi implantado um novo processo de detecção automática de linguagem imprópria nas mensagens que são enviados no bate-papo do aplicativo – tanto nas viagens quanto no Uber Eats. Palavras que possam ser consideradas ofensivas ou que ameacem a integridade de uma pessoa entram automaticamente em um processo de desativação permanente da conta original.
Ano passado os aplicativos de usuários e motoristas parceiros foram atualizados com o lançamento do botão Recursos de Segurança, que reúne todas as funções de segurança da plataforma. Assim, ao longo do trajeto, usuários e motoristas parceiros podem compartilhar a sua localização e o tempo de chegada em tempo real com quem desejarem. Caso o usuário tenha um Perfil Familiar, cada vez que uma pessoa cadastrada em seu perfil começa uma viagem, ele pode automaticamente acompanhar o percurso diretamente de seu celular.
O recurso também oferece a opção de ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app. Além disso, o botão reúne todas as informações mais importantes do assunto na Central de Segurança – como o serviço de atendimento 24/7, o Código de Conduta da Comunidade Uber, dicas gerais de segurança, entre outros.
Durante cada viagem, tanto os motoristas parceiros quanto os usuários estão cobertos por um seguro da Uber para acidentes pessoais.
Depois
Passageiros e motoristas podem e devem avaliar um ao outro depois de cada viagem, de forma anônima. Temos uma equipe que monitora essas informações e pode banir da plataforma usuários ou motoristas que tiverem uma média baixa de avaliações ou conduta que viole os termos e condições de uso ou o código de conduta da comunidade, como por exemplo, comportamento inapropriado ou perigoso.
Após cada viagem, os usuários recebem um recibo com os detalhes do preço e o mapa do trajeto realizado. Caso o passageiro precise reportar algum incidente, a Uber conta com uma equipe de suporte disponível 24/7, que analisa individualmente caso a caso. A denúncia pode ser feita pelo menu de ajuda do próprio app ou pelo site uber.com/ajuda.
Os motoristas parceiros contam ainda com um número de telefone 0800 para registrar casos de emergência e solicitar apoio da Uber depois que tiverem comunicado às autoridades e estiverem em segurança. O aplicativo da Uber permite ainda que solicitações de viagens sejam canceladas por motoristas parceiros sinalizando motivo de segurança quando não se sentirem confortáveis.
A empresa está sempre avaliando e estudando novas medidas que possam aprimorar a segurança. Como parte desses esforços, a Uber anunciou que vai instalar em São Paulo seu primeiro Centro de Desenvolvimento Tecnológico da América Latina, com foco inicialmente em segurança. Serão até 150 especialistas trabalhando nesse projeto, que receberá investimentos de R$ 250 milhões.