Desde março estudando implantar restrição de área em Campo Grande, o Uber encontrou outra alternativa para dar maior segurança a motoristas do aplicativo em bairros com grande incidência de crimes na cidade: o PIN.
Corridas aceitas em áreas consideradas "perigosas" pelo Uber exigem que o passageiro digite um código de quatro números em seu celular para liberar a corrida no aplicativo.
O objetivo, claro, é confirmar que o celular que pediu a corrida seja realmente do passageiro que embarcar no veículo. A medida vem sendo usada há cerca de um mês na Capital, geralmente no período noturno, após as 21h. Jardim Los Angeles, Nova Bahia, Tiradentes, Jardim Noroeste, Portal Caiobá e Jardim Nhanhá são alguns dos bairros em que a medida passou a valer, segundo apurou o Correio do Estado.
Por meio de nota, o Uber informou que o uso do PIN para confirmar a propriedade do celular sempre foi usada. Mas motoristas ouvidos pela reportagem que a medida nunca chegou a ser usada antes na Capital.
CARRO ALUGADO
Ainda de acordo com motoristas, a medida é recorrente para quem usa veículos alugados. "Passou das 21 é quase certo. É uma medida que deixa a gente mais seguro, claro, mas irrita muitos passageiros", disse José Carlos Teixeira, 53 anos, há três dels dirigindo Uber.
Ele já foi assaltado duas vezes, ambos em bairros da região sul (Jardim Centenário e Aero Rancho) e em ambas os bandidos utilizaram o celular de uma pessoa previamente assaltada por eles.
"As duas situações foram iguais: de noite, chamaram o carro com celular roubado, de mulheres. Ambas eram muito parecidas, tinham como destino o shopping, os caras embarcaram falando queiam buscar mãe ou namorada no trabalho e pediram para desviar o caminho pedindo para comprar cigarro. Quando entrei em uma rua vazia, fui abordado", relatou o motorista.
Com esse know-how da bandidagem, Teixeira pondera que a violência sofrida por eles, geralmente por pessoas armadaS, não seria inibida só com essa medida.
"Vamos pensar bem, são corridas chamadas da periferia, provavelmente os bairros onde o ladrão mora. O que impede ele de chamar o carro de uma rua vazia? E, armado, me render quando for para colocar o código? Nada", completou.
Sem sa sensação completa de segurança de um lado, sobra a raiva pelo lado dos passageiros. Muitos deles enfrentam o problema da falta de dinheiro, seja para colocar crédito no celular ou possuir um plano com conta mensal. Quase sempre wi-fi salva. Mas usualmente o que vale é a camaradagem: vizinho, irmão, pai e seja lá o que for para chamar o carro.
A doméstica Luzinete Souza, 51, é um desses casos. Na úiltima semana ela foi buscar a mãe na rodoviária. Pediu para um vizinho chamar o carro. E, ao embarcar, a surpresa da necessidade de se digitar os tais códigos. "Passei muita raiva. E o pior que nem é culpa do motorista", disse.
Após minutos de discussão e desabafo, ela desistiu de agilizar a viagem e foi de ônibus.
ÁREA RESTRITIVA
O Correio do Estado apurou que o Uber considerou inválido adotar na Capital a restrição de área, devido ao tamanho menor do perímetro urbano frente à outras capitais. Não há uma definição lógica dos bairros, por exemplo.
Já grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro convivem há pelo menos cinco anos. O aplicativo impede que se chame corridas de bairros com grande número de ocorrências envolvendo motoristas.
Ou seja, o passageiro tem que sair de seu bairro para usar o serviço de transporte.
A adoção de medidas de segurança em Campo Grande se tornou pauta do Uber neste ano após o acúmulo de casos de destaque envolvendo motoristas vítimas de bandidos. O último deles foi em julho, quando um profissional de 37 anos foi sequestrado por uma dupla e pulou do carro com mãos e pernas amarradas para se salvar.